"Entrudo no Rio de Janeiro", de Augustus Earle (1822) |
No livro “Carnaval brasileiro”,
da antropóloga Maria Isaura Pereira de Queiroz, diz que muito antes do Cristianismo,
o Carnaval era chamado de “Entrudo” (termo que foi introduzido no Brasil
pelos portugueses, por volta do século XVI – o costume de brincar no período
“carnavalesco”, que variava de formas de aldeia para aldeia), em que
comemorava a entrada da Primavera, no Hemisfério Norte. Segundo ela, a festa
foi incorporada por um tempo às práticas cristãs e passou a ser comemorada a partir
do sábado anterior à quarta-feira de Cinzas. O objetivo era comer e festejar
tanto quanto fosse possível, pois a Igreja entraria na Quaresma, tempo de
penitência, reclusão e silêncio interior.
“Das práticas rituais de tribos
indígenas que davam boas vindas à Primavera e celebravam a fertilidade, o
Carnaval surgiu pelo cristianismo durante a propagação da Igreja pela Península
Ibérica. Em Portugal, país de origem da data festiva na Europa, as comemorações
passaram a ter outros significados. Já não eram mais a primavera ou a
fertilidade, mas o contraste entre virtude e vício, vida e morte, Quaresma e
Entrudo. Máscaras e fantasias eram utilizadas para representar cada personagem.”.
O Carnaval (do Latim "carnis" - carne, e "valles" - prazeres) sempre foi marcado por
contrastes, inclusive os sociais. “A rapidez com que a festa foi adotada
pelos cristãos demonstrava a existência de um desejo profundo do povo de
revirar a situação de dominação existente, substituindo-a por outra”,
afirma Maria Isaura.
"Originário dos
"Ritos da Fertilidade da Primavera Pagã", o primeiro carnaval que se
tem origem foi na Festa de Osiris, no Egito – o evento que marcava o recuo das
águas do Nilo. Os Carnavais alcançaram o pico junto com a Bacanália. Durante a
Idade Média a Igreja tentou controlar as comemorações. A tradição do Carnaval
ainda é comemorada na Bélgica, Itália, França e Alemanha. No ocidente, o
principal carnaval acontece no Rio de Janeiro (desde 1840) e a Mardi Gras, em
New Orleans, E.U.A. (dede 1857). Pré-Cristãos medievais e Carnavais modernos
tem um papel temático importante. Eles celebram a morte do inverno (no
Hemisfério Norte) e a celebração do renascimento da natureza, ultimamente
reunimos o individual ao espiritual e aos códigos sociais da cultura. Ritos
antigos de fertilidade, com eles sacrifícios aos Deuses, exemplificam esse
encontro. Por outro lado, o carnaval permite paródias, e separação temporária
de constrangimentos sociais e religiosos." (The Grolier Multimedia
Encyclopedia, 1997).
Ainda na Enciclopédia Grolier,
explicando o que é o carnaval: “(...) uma festa pagã que os católicos
tentaram mascarar para parecer com uma festa cristã, assim como fizeram com o
Natal”, também ligada aos festivais de Baco e Dionísio:
"A juventude de Baco", de Willian-Adolphe Bouguereau (1884) |
Bacanália (do Latim Bacchanale)
é o nome que se dava na Roma Antiga aos rituais religiosos em homenagem a Baco
(ou Dionísio), Deus do vinho, por ocasião das vindimas (período de colheita da
uva e fabricação do vinho), em que havia um cerimonial sério e contrito, de
início, seguido por uma comemoração pública e festiva.
"A Bacanal", de Peter Paul Rubens |
Os bacanais foram introduzidos em
Roma e vindos do sul da Península Itálica através dos Etruscos, há cerca de
1000 a.E.C.. Eram secretos e frequentados somente por mulheres durante três
dias no ano. Posteriormente, os homens foram admitidos nos rituais e as
comemorações aconteciam cinco vezes por mês. Ao invadirem as ruas de Roma,
dançando, soltando gritos estridentes e atraindo adeptos do sexo oposto em
número crescente, os bacanais começaram a causar certas desordens, onde
conspirações políticas se faziam durante as festividades, levando à promulgação
de um decreto, em 186 a.E.C., que proibia a festividade.
Uma Ménade com um tirso. Fragmento de cerâmica no Museu do Louvre |
O bacanal era feito por mulheres
que corriam pelas ruas e pelos campos, à noite, seminuas, cobertas com peles de
tigre ou pantera, fixadas na cintura com festões de hera e pâmpanos. Empunhavam
o Tirso (bastão envolvido em hera e ramos de videira, encimado por uma pinha),
algumas com os cabelos soltos carregavam fachos.
Aos gritos de Evoi! Evoi!
(origem do grito carnavalesco Evoé!), em honra de Evan, epíteto de Baco, soavam
as flautas e tambores juntamente com os címbalos e as castanholas presas às
vestes. Dava-se às mulheres que participavam das Bacanais o nome de Menades (ou
Ménades), termo grego que significa "furiosas".
Fato é que de lá para cá o
Carnaval sofreu diversas, grandes e profundas transformações sociais. De rural
passou a ser urbano. Deixou de ser elitista e passou a incorporar camadas menos
favorecidas. Aos poucos, foi perdendo suas características em Portugal e ganhou
força no Brasil, sua colônia. A partir de 1930, as escolas de samba se
desenvolveram no país e o Carnaval acabou incorporado à cultura nacional, como
sendo uma tradicional festa brasileira - considerado o maior festival do mundo. Uma festa do mundo antigo que tem no Brasil milhares de atuantes, onde histórias são contadas em versos. Mesmo tendo sido adotado como comemoração da Igreja Católica por volta de 590 E.C. cada vez mais sua origem vem sendo retomada, e especialmente no Rio de Janeiro muitas vezes Deuses Pagãos são trazidos ao povo (gregos, romanos e africanos na maioria).
Representação de Deuses Pagãos Africanos na Comissão de Frente da Mangueira (Marquês da Sapucaí (RJ), 2012) |
Vista da Marquês da Sapucaí (RJ) no Carnaval 2012 A maior festa popular do mundo pelo Guinness Book |
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